(Rubem Alves)
Havia certa vez um homem que dizia o nome de Deus. Quando o coração lhe doía por uma criança que chorava, ou por um pobre que mendigava, ele andava até a floresta, acendia o fogo, entoava canções e dizia as palavras. E Deus o ouvia...
O tempo passou. Voltou à mesma floresta. Mas não carregava fogo nas mãos. Só lhe restou cantar as canções e dizer as palavras. E Deus o atendeu ainda assim...
Um tempo mais longo se foi. Sem fogo nas mãos, sem força nas pernas, não alcançou a floresta. Mas do seu quarto saíram as mesmas canções e as mesmas palavras. E Deus lhe disse que sim...
Chegou a velhice. Nem floresta nem fogo ou canções. Restaram as palavras. E o mesmo milagre ocorreu...
Por fim, sem fogo ou floresta, sem canções ou palavras. Só mesmo o infinito desejo e o silêncio: e Deus atendeu.
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"E Deus atendeu": texto retirado do livro Do universo à jabuticaba, de Rubem Alves.