Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
é do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
diverso, móbil e só.
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo como páginas meu ser.
O que segue, não prevendo...
O que passou, a esquecer.
Noto à margem do que li
o que julguei que senti.
Releio e digo : "Fui eu ?"
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