terça-feira, 29 de outubro de 2013

"Um anjo passou por mim..."

Depoimento de um médico oncologista do Recife


Nós médicos somos treinados para nos sentirmos "deuses". Só que não o somos! Não acho o sentimento de onipotência de todo ruim, se bem dosado. É este sentimento que nos impulsiona, que nos ajuda a vencer desafios, a se rebelar contra a morte e a tentar ir sempre mais além. Se mal dosado, porém, este sentimento será de arrogância e prepotência, o que não é bom. Quando perdemos um paciente, voltamos à planície, experimentamos o fracasso e os limites que a ciência nos impõe e entendemos que não somos deuses. Somos forçados a reconhecer nossos limites! 

Recordo-me com emoção do Hospital do Câncer de Pernambuco, onde dei meus primeiros passos como profissional. Nesse hospital, comecei a freqüentar a enfermaria infantil, e a me apaixonar pela oncopediatria. Mas também comecei a vivenciar os dramas dos meus pacientes, particularmente os das crianças, que via como vítimas inocentes desta terrível doença que é o câncer. Com o nascimento da minha primeira filha, comecei a me acovardar ao ver o sofrimento destas crianças. Até o dia em que um anjo passou por mim. 

Meu anjo veio na forma de uma criança já com 11 anos, calejada porém por 2 longos anos de tratamentos os mais diversos, hospitais, exames, manipulações, injeções e todos os desconfortos trazidos pelos programas de quimioterapias e radioterapia. 

Mas nunca vi meu anjo fraquejar. Já a vi chorar sim, muitas vezes, mas não via fraqueza em seu choro. Via medo em seus olhinhos algumas vezes, e isto é humano! Mas via confiança e determinação. Ela entregava o bracinho à enfermeira e com uma lágrima nos olhos dizia: faça tia, é preciso para eu ficar boa. 

Um dia, cheguei ao hospital de manhã cedinho e encontrei meu anjo sozinho no quarto. Perguntei pela mãe. E comecei a ouvir uma resposta que ainda hoje não consigo contar sem vivenciar profunda emoção. 

Meu anjo respondeu: - Tio, às vezes minha mãe sai do quarto para chorar escondido nos corredores. Quando eu morrer, acho que ela vai ficar com muita saudade de mim. Mas eu não tenho medo de morrer, tio. Eu não nasci para esta vida! 

Pensando no que a morte representava para crianças, que assistem seus heróis morrerem e ressuscitarem nos seriados e filmes, indaguei: - E o que a morte representa para você, minha querida? - Olha tio, quando a gente é pequena, às vezes, vamos dormir na cama do nosso pai e no outro dia acordamos no nosso quarto, em nossa própria cama não é? (Lembrei que minhas filhas, na época com 6 e 2 anos, costumavam dormir no meu quarto e após dormirem eu procedia exatamente assim.) 

- É isso mesmo, e então? - Vou explicar o que acontece, continuou ela: Quando nós dormimos, nosso pai vem e nos leva nos braços para o nosso quarto, para nossa cama, não é? - É isso mesmo querida, você é muito esperta! - Olha tio, eu não nasci para esta vida! Um dia eu vou dormir e o meu Pai vem me buscar. Vou acordar na casa Dele, na minha vida verdadeira! 

Fiquei "entupigaitado". Boquiaberto, não sabia o que dizer. Chocado com o pensamento deste anjinho, com a maturidade que o sofrimento acelerou, com a visão e grande espiritualidade desta criança, fiquei parado, sem ação. - E minha mãe vai ficar com muita saudade minha, emendou ela. Emocionado, travado na garganta, contendo uma lágrima e um soluço, perguntei ao meu anjo: - E o que saudade significa para você, minha querida? - Não sabe não, tio? Saudade é o amor que fica! 

Hoje, aos 53 anos de idade, desafio qualquer um a dar uma definição melhor, mais direta e mais simples para a palavra saudade: é o amor que fica! 

Um anjo passou por mim... 

Foi enviado para me dizer que existe muito mais entre o céu e a terra, do que nos permitimos enxergar. Que geralmente, absolutilizamos tudo que é relativo (carros novos, casas, roupas de grife, jóias) enquanto relativizamos a única coisa absoluta que temos, nossa transcendência. 

Meu anjinho já se foi, há longos anos. Mas me deixou uma grande lição, vindo de alguém que jamais pensei, por ser criança e portadora de grave doença, e a quem nunca mais esqueci. Deixou uma lição que ajudou a melhorar a minha vida, a tentar ser mais humano e carinhoso com meus doentes, a repensar meus valores. 

Hoje, quando a noite chega e o céu está limpo, vejo uma linda estrela a quem chamo "meu anjo, que brilha e resplandece no céu. Imagino ser ela, fulgurante em sua nova e eterna casa. 

Obrigado anjinho, pela vida bonita que teve, pelas lições que ensinaste, pela ajuda que me deste. Que bom que existe saudades! O amor que ficou é eterno. 

Rogério Brandão 

Médico oncologista clinico 
RC Recife Boa Vista D4500 
Cremepe 5758

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Carpe Diem


"No banco verde do parque, onde eu lia distraidamente o Almanaque Bertrand, 
aquela sentença pegou-me de surpresa: 
Colhe o momento que passa."

(Mário Quintana)


Fotografia: @fisiotur

sábado, 26 de outubro de 2013

Das Mesmices...



"A cada manhã, exijo ao menos a expectativa de uma surpresa, quer ela aconteça ou não. 
Expectativa, por si só, já é um entusiasmo.
Quero que o fato de ter uma vida prática e sensata não me roube o direito ao desatino."


(Martha Medeiros)


sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Relógios

"Amigos, não consultem os relógios
quando um dia eu me for de vossas vidas, 
em seus fúteis problemas tão perdidas,
que até parecem mais uns necrológios…

Porque o tempo é uma invenção da morte:
Não o conhece a vida – a verdadeira -
em que basta um momento de poesia
para nos dar a eternidade inteira!

Inteira, sim, porque essa vida eterna
somente por si mesma é dividida...
Não cabe, a cada qual, uma porção.

E os anjos entreolham-se espantados
quando alguém – ao voltar a si da vida -
acaso lhes indaga: 
Que horas são?"

(Mario Quintana)







quinta-feira, 24 de outubro de 2013

A diferença entre Possibilidade e Expectativa

*Texto de Louis Burlamaqui



Hoje vou falar de algo que influencia totalmente a maneira de você se relacionar com a vida: a diferença entre possibilidade e expectativa.

Tem pessoas que vivem cheias de expectativas nas coisas. Expectativa tem relação com esperar, imaginar, torcer para que algo aconteça. Quando você fica torcendo para que algo aconteça, fica propenso a ter uma atitude passiva, de esperar. Expectativa que o namoro dê certo, que o emprego saia, que a venda se concretize. Quando temos essas expectativas na vida e elas não acontecem, temos frustração e dor.

Sugiro que você mude para viver uma vida criando possibilidades. Isso significa que você está no comando. Cada atitude sua aumenta as chances de algo acontecer. Viver aumentando as possibilidades é dar o seu melhor na relação para que as possibilidades de darem certo aumentem. Em seu emprego, que você faça inovações e você aumente suas visitas para não depender de um cliente somente.

Viver criando possibilidades e sair da dependência da esperança é construir o seu futuro em cima do agora.

Pare de criar expectativas; crie e aumente as possibilidades.


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*Louis Burlamaqui é mineiro, natural de Belo Horizonte, diretor da Sollus e diretor geral da Dale Carnegie de Minas Gerais. Master Trainer da Carnegie University-EUA, Louis treinou mais de 20 mil profissionais no México, Argentina, Colômbia, EUA e Brasil, sendo premiado em 2006 e 2007 como o Trainer número 1 do mundo pela Dale Carnegie e Associates.



quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Você já fez alguém sentir-se importante hoje?

Texto de Floriano Serra*




Uma das maiores motivações humanas é saber-se importante.

Não me refiro àquela “importância” dos abastados e poderosos. Essa é fútil, porque se impõe pela riqueza ou pelo poder – e acaba quando essas coisas acabam. Refiro-me à importância  imaterial da sua utilidade, do seu valor pessoal, da qualidade da sua essência e da sua existência. Aquela que é construída pelo Ser e não pelo Ter. Essa importância é que é verdadeiramente importante, porque o Ser é perene e o Ter é passageiro.

Quer um exemplo? Lembre das pessoas que tiveram mais importância na sua vida. Você descobrirá que muitas delas foram, simples, humildes, modestas – mas tremendamente valiosas pelo que lhe ensinaram de bom, pelas marcas e mensagens positivas que deixaram em você. Tantos anos já podem ter se passado, mas a importância delas para você continua presente até hoje.

Se você ouvir: “Fulano é importante”, significa que Fulano tem poder, fama ou riquezas. Mas se você ouvir: “Fulano é importante para mim”, significa que Fulano tocou seu coração pela solidariedade, companheirismo ou afeto – embora não precise ser rico, famoso nem poderoso.

Em suma, ser importante é ser útil, é saber que ocupa com mérito e direito seu espaço na vida.
O mais maravilhoso de tudo isso, é que cada um nós pode fazer alguém sentir-se importante. Todo dia. Várias vezes ao dia. Basta reconhecermos e declararmos explicitamente seu valor e sua importância para nós.

O mundo anda cheio de pessoas carentes  e ressentidas porque as outras se esquecem dessa ação singela de deixar que elas ouçam ou percebam como são ou foram importantes para nós, num determinado momento.

Lembra-se de como foi importante aquele sujeito que lhe ensinou uma direção segura, quando você estava perdido numa rua desconhecida? Ou aquele que, sem conhecê-lo, emprestou-lhe um dinheiro – ainda que muito pouco – o suficiente para completar a conta do supermercado, do ingresso do cinema ou da passagem do ônibus? E o que dizer daquela senhora desconhecida que o amparou e providenciou um copo d’água quando você sentiu-se mal na fila?

Nessas e em muitas outras ocasiões, a gente costuma dizer um rápido  “muito obrigado”, para logo em seguida esquecer a importância e a beleza daquele ato voluntário, o qual certamente mereceria um agradecimento menos automático e muito mais caloroso, mais humano. Aquelas – e muitas outras - são pessoas que, embora tenham sido importantes, passam pela nossa vida sem maiores registros afetivos e logo são esquecidas.

No entanto, é muito mais fácil lembrar daquelas que fazem o oposto, que o desqualificam ou o ignoram, em ações opostas à arte de fazer o outro sentir-se importante. E isso acontece com freqüência porque, ironicamente, a crítica flui com muito mais facilidade da boca humana do que o elogio – e assim as pessoas vão deixando de se sentirem importantes.

No mundo corporativo, os gestores têm às mãos uma ótima oportunidade de fazer cada membro de suas equipes sentir-se importante: é durante o chamado  “feedback”, ocasião em que é manifestada sua opinião sobre o desempenho do colega.

O “feedback” não foi criado para ser um instrumento de crítica  e desqualificação. É justamente o contrário: deve ser uma oportunidade para identificar as competências que devem ser aperfeiçoadas.  Mas, sobretudo, deve ser um instrumento para reconhecer e expressar a importância daquela pessoa na equipe – porque se não o fosse, não deveria estar na equipe. Se está, é porque é importante, ainda que precise desenvolver algumas habilidades ou conhecimentos.

Como “feedback” não tem dia nem hora para ser dado, isso significa que qualquer gestor pode fazer com que, frequentemente, qualquer membro da sua equipe se sinta importante – de preferência todo dia. Bastam algumas poucas palavras. Ou, às vezes, um pequeno gesto.

Eu não tenho a menor dúvida de que cada leitor tem um monte de gente importante à sua volta - em casa ou no trabalho. A questão é: eles sabem disso? Você já lhes disse?

Se você fizer a sua parte, você também vai se tornar muito importante para alguém. E ao sentir como isso é gratificante, você certamente vai querer compartilhar esse sentimento e fazer com que outros sintam a mesma coisa. Chame a isso de “efeito dominó” ou “bola de neve”. Não importa o nome, importa a ação.

Talvez a origem fundamental desse sentimento de prazer ao nos percebermos importantes, esteja na consciência definitiva de que, em resumo, importante é aquele que cumpre com dignidade a sua Missão.

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*Floriano Serra é psicólogo, diretor de RH e Qualidade de Vida da APSEN Farmacêutica, eleita pelo terceiro ano consecutivo "uma das Melhores Empresas para Trabalhar". É autor dos livros "A Empresa Sorriso" e "A Terceira Inteligência" (Editora Butterfly) e um dos 25 profissionais brasileiros incluídos no livro "Gigantes da Motivação".(Editora Landscape).


terça-feira, 22 de outubro de 2013

Chuva

"Você que tem medo de chuva... 
Você não é nem de papel, 
Muito menos feito de açúcar, 
Ou algo parecido com mel... 

Experimente tomar banho de chuva, 
Conhecer a energia do céu! 
Energia dessa água sagrada... 
Nos abençoa da cabeça aos pés. 

Óh, chuva! 
Eu peço que caia devagar... 
Só molhe este povo de alegria... 
Para nunca mais chorar!" 

(Planta e Raiz)

 

O Leitor

"O leitor que mais admiro é aquele que não chegou até a presente linha. 
Neste momento, já interrompeu a leitura e está continuando a viagem por conta própria." 
(Mário Quintana)




Simplicidade


"Que ninguém se engane. 
Só se consegue a simplicidade por meio de muito trabalho." 
(Clarice Lispector)

Fotografia de Regina Souza



Gente

"O grande barato é gente. 
Pra lutar, pra amar, pra criar... 
Não inventaram - duvido que possam - nada mais divertido, intenso e emocionante que... gente!

Gente em sua inteireza, com sua fragilidade e seus tempos, seus conflitos. Gente que vai nos enchendo de recordações...

Aquelas que vão formando nossa identidade e o enorme continente de memórias sobre o qual podemos nos debruçar, e assegurar-nos de que nossa vida foi inteira...

Seja mais humano e agradável com as pessoas. 

Cada uma das pessoas com quem você convive está travando algum tipo de batalha."

(Kelly Fagundes)



Poema Transitório


“(…) é preciso partir...
É preciso chegar...
É preciso partir...
É preciso chegar…

Ah, como esta vida é urgente!

No entanto, eu gostava mesmo era de partir…
e – até hoje – quando acaso embarco para alguma parte,
acomodo-me no meu lugar, fecho os olhos e sonho:

Viajar, viajar...

Mas para parte nenhuma…
Viajar indefinidamente…
Como uma nave espacial perdida entre as estrelas.”


(Mário Quintana)




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