quarta-feira, 25 de março de 2015

A fita métrica do amor

(Martha Medeiros)

Como se mede uma pessoa? Os tamanhos variam conforme o grau de envolvimento. Ela é enorme pra você quando fala do que leu e viveu, quando trata você com carinho e respeito, quando olha nos olhos e sorri destravado. É pequena pra você quando só pensa em si mesmo, quando se comporta de uma maneira pouco gentil, quando fracassa justamente no momento em que teria que demonstrar o que há de mais importante entre duas pessoas: a amizade.

Uma pessoa é gigante pra você quando se interessa pela sua vida, quando busca alternativas para o seu crescimento, quando sonha junto. É pequena quando desvia do assunto.

Uma pessoa é grande quando perdoa, quando compreende, quando se coloca no lugar do outro, quando age não de acordo com o que esperam dela, mas de acordo com o que espera de si mesma. Uma pessoa é pequena quando se deixa reger por comportamentos clichês.

Uma mesma pessoa pode aparentar grandeza ou miudeza dentro de um relacionamento, pode crescer ou decrescer num espaço de poucas semanas: será ela que mudou ou será que o amor é traiçoeiro nas suas medições? Uma decepção pode diminuir o tamanho de um amor que parecia ser grande. Uma ausência pode aumentar o tamanho de um amor que parecia ser ínfimo.

É difícil conviver com esta elasticidade: as pessoas se agigantam e se encolhem aos nossos olhos. Nosso julgamento é feito não através de centímetros e metros, mas de ações e reações, de expectativas e frustrações. Uma pessoa é única ao estender a mão, e ao recolhê-la inesperadamente, se torna mais uma. O egoísmo unifica os insignificantes.

Não é a altura, nem o peso, nem os músculos que tornam uma pessoa grande. É a sua sensibilidade sem tamanho.



"A vida é muito curta para ser pequena..."


A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa:
Quando se vê, já são seis horas! 
Quando de vê, já é sexta-feira! 
Quando se vê, já é natal! 
Quando se vê, já terminou o ano! 
Quando se vê, perdemos o amor da nossa vida... 
Quando se vê passaram 50 anos... 
Agora é tarde demais para ser reprovado.
Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio. 
Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas... 
Seguraria o amor que está a minha frente e diria que eu o amo... 
E tem mais: não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de tempo. 
Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz. 
A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará.

(Mario Quintana)



segunda-feira, 23 de março de 2015

O calço da mesa

(Fabrício Carpinejar)


É muita sorte encontrar uma mesa manca no restaurante. Festejo o achado, ainda mais se estou acompanhado de minha mulher.

Não mudo de lugar, não peço ajuda do garçom, faço questão de sentar e apoiar os braços, com todo o meu peso, para determinar a inclinação. É sempre uma oportunidade para impressionar e mostrar para minha companhia que ajusto desequilíbrios e desafio desarmonias.

O perfeccionismo mata a cumplicidade. Casais se separam por intransigências mínimas acumuladas pelo tempo e nunca ditas.

Vejo a mesa manca como uma maneira sedutora de dar um recado: a imperfeição não me incomoda, conserto o mundo, estou disposto a enfrentar os altos e baixos de um relacionamento. É uma demonstração de simplicidade diante dos problemas. Não reclamo, não sinalizo desconforto, não arredo o pé dali. 

Com desinteresse ensaiado, tomo um guardanapo e enrolo a medida exata para formar um calço. Tenho o olhar clínico de um marceneiro, de um engenheiro das resmas de papel. Com uma rápida mirada, sei quantas dobras são necessárias para conter o desnível.

Minha esposa, comovida e surpreendida com o gesto, relaxa mais comigo, e percebe que pode estragar e não será abandonada, que pode adoecer e será amparada e protegida.





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Publicado na Revista Isto É Gente. Edição Bimestral. P. 34, Março 2015. Ano 15 Número 717. São Paulo (SP)

Schemata e Poesia...


"Cada leitor procura algo no poema. 
E não é insólito que o encontre: 
já o trazia dentro de si." 
(Otávio Paz)



Fotografia de Regina Souza

quarta-feira, 4 de março de 2015

O sentido está na caminhada...



"Comecei a aprender a ser mais gentil com o meu passo. 
Afinal, não há lugar algum para chegar além de mim. 
Eu sou a viajante e a viagem."

(Ana Jácomo)



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