terça-feira, 27 de outubro de 2015

Da indiferença...

"Socorro, não estou sentindo nada!
Nem medo, nem calor, nem fogo...
Não vai dar mais pra chorar... Nem pra rir.

Socorro, alguma alma, mesmo que penada...
Me empreste suas penas.
Já não sinto amor, nem dor...
Já não sinto nada.

Socorro, alguém me dê um coração...
Que esse já não bate nem apanha.
Por favor, uma emoção pequena, qualquer coisa...
Qualquer coisa que se sinta.

Tem tantos sentimentos...
Deve ter algum que sirva.
Qualquer coisa que se sinta...

Socorro, alguma rua que me dê sentido!
Em qualquer cruzamento...
Acostamento, encruzilhada.

Socorro, não estou sentindo nada.
Nem medo, nem calor, nem fogo...
Nem vontade de chorar... Nem de rir."

('Socorro' - Arnaldo Antunes)








quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Rotina: "pero sin perder la ternura jamás!"

"Vou sair pra ver o céu, vou me perder entre as estrelas.
Ver de onde nasce o sol, como se guiam os cometas pelo espaço...
E os meus passos nunca mais serão iguais.

Se for mais veloz que a luz, então escapo da tristeza.
Deixo toda a dor pra trás, perdida num planeta abandonado no espaço...
E volto sem olhar pra trás.

(...)

Ele ganhou dinheiro...
Ele assinou contratos...
E comprou um terno...
Trocou o carro...
E desaprendeu a caminhar no céu...
E foi o princípio do fim."

___________
"Busca Vida" - Os Paralamas do Sucesso


quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Como ensinar...

(Rubem Alves)


"Se eu fosse ensinar a uma criança a arte da jardinagem, não começaria com as lições das pás, enxadas e tesouras de podar. Eu a levaria a passear por parques e jardins, mostraria flores e árvores, falaria sobre suas maravilhosas simetrias e perfumes; a levaria a uma livraria para que ela visse, nos livros de arte, jardins de outras partes do mundo.

Aí, seduzida pela beleza dos jardins, ela me pediria para ensinar-lhe as lições das pás, enxadas e tesouras de podar...

Se fosse ensinar a uma criança a beleza da música, não começaria com partituras, notas e pautas. Ouviríamos juntos as melodias mais gostosas e lhe falaria sobre os instrumentos que fazem a música.

Aí, encantada com a beleza da música, ela mesma me pediria que lhe ensinasse o mistério daquelas bolinhas pretas escritas sobre cinco linhas. Porque as bolinhas pretas e as cinco linhas são apenas ferramentas para a produção da beleza musical.

Se fosse ensinar a uma criança a arte da leitura, não começaria com as letras e as sílabas. Simplesmente leria as estórias mais fascinantes que a fariam entrar no mundo encantado da fantasia.

Aí então, com inveja dos meus poderes mágicos, ela desejaria que eu lhe ensinasse o segredo que transforma letras e sílabas em estórias..."

***

"Eu quero desaprender para aprender de novo. Raspar as tintas com que me pintaram. Desencaixotar emoções, recuperar sentidos."

***




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