domingo, 1 de dezembro de 2013

Maneiras de Amar

(Carlos Drummond de Andrade)



O jardineiro conversava com as flores e elas se habituaram ao diálogo. Passava manhãs contando coisas a uma cravina ou escutando o que lhe confiava um gerânio. 

O girassol não ia muito com sua cara... Ou porque não fosse homem bonito, ou porque os girassóis são orgulhosos de natureza. Em vão o jardineiro tentava captar-lhe as graças, pois o girassol chegava a voltar-se contra a luz para não ver o rosto que lhe sorria. 

Era uma situação bastante embaraçosa que as outras flores não comentavam. Nunca, entretanto, o jardineiro deixou de regar o pé de girassol e de renovar-lhe a terra na devida ocasião.

O dono do jardim achou que seu empregado perdia muito tempo parado diante dos canteiros, aparentemente não fazendo coisa alguma, e mandou-o embora depois de assinar a carteira de trabalho.

Depois que o jardineiro saiu, as flores ficaram tristes e censuravam-se porque não tinham induzido o girassol a mudar de atitude. Porém, a mais triste de todas era o girassol, que não se conformava com a ausência do homem. 

_Você o tratava mal, agora está arrependido?

_Não! _ Respondeu. _ Estou triste porque agora não posso tratá-lo mal. É a minha maneira de amar... Ele sabia disso e gostava.


Fotografia de Regina Souza

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